Eric
Gandhi Silveira
Produtor de leite a pasto no criatório Gir Leiteiro ANAA.
Fonte:
Tifton
85, arquivo pessoal.
A Tifton-85
é uma forrageira amplamente utilizada no Brasil. Foi lançada nos EUA em 1993 e
é considerado o melhor hibrido de tifiton de todos os tempos. É oriundo do
cruzamento entre a Tifton-68 e uma Cynodon
Dactylon aparentemente vinda da África do Sul, denominada P1 290884.
Produzira 26% mais matéria seca e fora 11% mais digestível e mais suculenta que
a Coastal, que é o Cynodon spp. mais
cultivado no Brasil. Além de ter produzido 20% mais matéria seca que o
tifton-68.(AGUIAR,2008). É muito competitiva com as invasoras mesmo quando
superpastejada. Possui em sua estrutura rizomas (caule subterrâneo) que confere
a essa forrageira uma grande resistência a seca e ao frio apesar de muito
exigente em fertilidade. Com isso a forrageira é muito indicada para sistemas
fertirrigados altamente intensivos. Possui melhor relação folha/caule que o
tifton-68. Na tabela 1 pode-se perceber a superioridade do tifton-85 em relação
ao tifton-68 em várias características.
Tabela 1:Comparativo do tifton-85 e tifton-68.
Característica
|
Tifton 68
|
Tifton 85
|
Resistência à geada
|
Fraca
|
Muito boa
|
Resistência ao fogo
|
Fraca
|
Boa
|
Resistência a doenças
|
Boa
|
Muito boa
|
Resistência à acidez
|
Fraca
|
Fraca
|
Resistência ao déficit hídrico
|
Razoável
|
Muito boa
|
Fechamento do solo
|
Razoável
|
Muito bom
|
Tolerância à cigarrinha 1
|
S
|
MS
|
1 = S: Susceptível; MS: Moderadamente Susceptível.
Fonte: Adaptado de Mickenhagen; Soares Filho (1995),
citados por Rodrigues et al. (1998) por Aguiar (2008). Adaptado
Segundo Aguiar
(2008), por ocasião do XV Simpósio sobre Manejo da Pastagem, realizado pela
FEALQ, em Piracicaba, em 1998, o Dr. G. M. Hill previu a grande aceitação e
expansão do cultivar Tifton 85 no Brasil. Segundo Hill “o aspecto positivo da
introdução da Tifton 85 no Brasil logo em seguida ao seu lançamento nos EUA é
que esse material forrageiro está agora disponível a grande número de
produtores nas principais regiões pecuárias do país”. Previu que
os cultivares Coastcross e Tifton 68 continuariam a representar alternativas
para uso no Brasil, mas que era esperado uma expansão na área plantada com
Tifton 85 em função de seu alto valor nutritivo, potencial produtivo e
adaptação à utilização sob pastejo (HILL et al, 1998, citado por Aguiar,2008)
E ele estava certo. Atualmente a tifton-85 é muito utilizada e
estudada em todo país. A tabela 2 faz-se referencias da potencialidade da
forrageira em sistemas diferentes em regiões diferentes no Brasil.
Tabela 2:Crescimento de pastagens de tifton85
manejadas intensivamente em diferentes localidades do Brasil, dado em taxa de
acúmulo média em cada estação (kg MS/ha/dia) e pelo acúmulo total anual (kg
MS/ha/ano).
Local/data
|
Primavera
|
Verão
|
Outono
|
Inverno
|
Anual
|
Fonte
|
2.Uberaba-MG/1998 a 2003
|
76,3
|
128
|
93,4
|
42
|
31.000
|
AGUIAR et al. (2002; 2003; 2004)
|
3.Uberaba-MG/2003 a 2004
|
107,6
|
87,1
|
57,1
|
72,7
|
29.610
|
AGUIAR et al. (2004. Dados não publicados)
|
4.Uberaba-MG/2004 a 2006
|
115,9
|
132,1
|
89,5
|
59,2
|
36.198
|
AGUIAR et al. (2006. Dados não publicados)
|
5.Conquista-MG/2003 a 2004
|
239
|
236,9
|
104,6
|
116,2
|
63.573
|
AGUIAR et al (2005)
|
6.Conquista-MG/2004 a 2005
|
167,6
|
149,7
|
80,4
|
101,4
|
45.542
|
AGUIAR et al. (2006. Dados não publicados)
|
7.Bahia/2005 a 2006
|
85,1
|
92,1
|
71,3
|
84,8
|
30.413
|
AGUIAR (2007. Dados não publica-dos)
|
8.Bahia/2006 a 2007
|
83,9
|
39,7
|
116,8
|
158,3
|
36.381
|
AGUIAR (2007. Dados não publica-dos)
|
Fonte: Adaptado de AGUIAR(2008)
O cultivo de tifton-85 está em plena expansão devido ao seu alto
valor nutritivo, potencial produtivo e adaptação ao pastejo. Na tabela 3
pode-se perceber o potencial nutritivo do tifton-85 em varias regiões do país
com base nos trabalhos da tabela 2 e em fazenda comercial de Pirapora-MG.
Tabela 3: Composição química da forragem (%) colhida simulando o
pastejo em pastagens de tifton85
manejadas intensivamente em diferentes localidades do Brasil.
Local/data
|
PB
|
NDT
|
FDN
|
FDA
|
P
|
||||
2.Uberaba-MG/1998 a 2003
|
10,22
|
61,56
|
74,2
|
34,7
|
0,18
|
||||
5 e 6.Conquista-MG/2003 a 2005
|
18,26
|
66,0 69,0
|
|||||||
7.Bahia/2005 a 2006
|
18,7
|
65,5
|
72,8
|
34,7
|
0,34
|
||||
8.Bahia/2006 a 2007
|
18,2
|
66,4
|
73,1
|
33,0
|
0,29
|
||||
Pirapora-MG 2011
|
21,63
|
68,4
|
0,18
|
||||||
Fonte: Adaptado de Aguiar (2008) e
Silveira (2011)
A forrageira pode ser usada para os mais variados fins desde pasto
á contenção de encostas e barrancos. Na pecuária é indicado para as principais
espécies domésticas como, bovinos, equinos, ovinos, caprinos e aves. Pode ser
oferecido como pastagem, fenos e silagens. Ou até mesmo em cubos ou péletes,
forma mais freqüente na indústria de rações.
Todavia deve-se ressaltar que não existe capim milagroso. A dinâmica
da produção animal a pasto consiste em utilizar os recursos de solo, clima e
capim para produzir uma quantidade de forragem e fazer com através do consumo
desta forragem o animal possa produzir.
Figura
1: Representação esquemática da produção
animal a pasto
Fonte: adaptado de Hodgson(1990)
Com isso deve-se
observar as técnicas de fertilização e manejo do tifton 85 para se alcançar
melhor potencial da forrageira.
Tifton-85 na bovinocultura de corte e leite
Fonte: arquivo pessoal
Com os dados já apresentados não há duvidas que o tifton-85 é uma
forrageira indicada para bovinocultura tanto para corte, quanto para leite. Principalmente nos sistemas mais
intensivos. Levando-se em consideração os dados de produtividade do tifton-85
apresentados na tabela 2 as lotações em tifton-85 estão na ordem de
3,6UA/ha/ano à 7,74UA/ha/ano. Lembrando que UA é unidade animal e equivale à
450 kg de peso vivo. Santos (informação pessoal, 2007, citado por Aguiar,2008)
concluiu a partir de uma extensa revisão bibliográfica que o potencial de
produção de vacas leiteiras consumindo forragem em pastagens tropicais
manejadas intensivamente estava por volta de 9,10 kg de leite/dia sem
suplementação concentrada. Nesta revisão, o consumo de MS médio foi de 10,95
kg/dia, o que resulta em uma conversão alimentar média de 1,2 kg de MS ingerida/kg
de leite produzido. Com esses dados pode-se chegar á uma produtividade de mais
de 25700kg de leite/há/ano. Contudo sabe-se de vários sistemas comerciais que
ultrapassaram os 40.000kg de leite/ha/ano com tifton-85 irrigado e adubado mais
concentrado, com lotações entre 10 e 15 UA/ha/ano. Um desses sistemas foi
apresentado pela Alcance Consultoria e planejamento rural em Pirapora no norte de Minas Gerais. Onde
foi demonstrado uma produtividade de 48.000kg de leite/há/ano com lotação média
de 8UA/ha em pastejo de tifton-85 rotacionado, irrigado e adubado mais 2,5kg de
concentrado em média por vaca por dia. Contudo uma análise mais completa da
viabilidade do leite a pasto com tifton-85 foi apresentada pelo professor
Adilson de Paula da FAZU por ocasião do III Simpósio de nutrição e Produção de
Gado de Leite. Por este fazendo a projeção dos indicadores de uma propriedade
leiteira comercial, utilizando-se de pastagem irrigada com 70% de tifton-85 e
30% de mombaça, foi possível alcançar rentabilidade de 13,53% ao ano sobre todo
capital investido.
Em bovinocultura de corte o tifton-85 também impressiona com o seu
potencial produtivo. Em um trabalho conduzido na fazenda escola da FAZU de 1999
a 2000 com animais zebus e cruzados em pastejo rotacionado de monbaça, Tanzânia
e tifton-85, foram determinados o Custo Total, o custo/@, o Custo
Operacional Efetivo, a Receita, a Margem Bruta, a Margem Líquida, a
Lucratividade, o Retorno Sobre o Capital Circulante e o Retorno Sobre o Capital
Investido. A lucratividade variou de 26% no sistema com capim Tanzânia, a 32%
no sistema com capim Mombaça e 57% no sistema com capim Tifton 85. O Retorno
Sobre o Capital Investido (RCI) foi de 8% no sistema com capim Tanzania, 9,5%
no sistema com capim Mombaça e 22% no sistema com capim Tifton 85. Na tabela 4 estão descriminados os valores coletados no
trabalho.
TABELA
4 - Resultado econômico do sistema intensivo de produção de carne a pasto em
pastagens dos capins Mombaça, Tanzânia e Tifton 85
Dado avaliado
|
Mombaça
|
Tanzânia
|
Tifton 85
|
Animais/ha.média.ano
UA/ha.média.ano
Ganho médio diário (Kg)
Kg peso vivo/ha.ano
@/ha.ano
COE/ha.ano (R$)a
CT/ha.ano (R$)b
Custo/@ (R$)
Receita/ha.ano (R$)
MB/ha.ano (R$)c
ML/ha.ano (R$)d
Lucratividade (%)
RCC (%)e
TCI/ha (R$)f
RCI (%)g
|
5,4
4,46
0,60
1.294,0
44
1.060,0
1.196,0
27
1.760,0
700,00
564,0
32
53
5.911,0
9,5
|
4,64
3,65
0,68
1.176,0
40
1.049,0
1.175,0
29
1.600,00
551,00
425,00
26
40
5.323
8,0
|
9,1
7,0
0,68
2.294,0
78
1.208,0
1.353,0
17
3.120,0
1.912,0
1.767,0
57
146
8.016
22
|
a
Custo Operacional Efetivo b Custo Total c Margem Bruta d Margem Liquida e
Retorno Sobre o Capital Circulante f Total de capital investido em um hectare g
Retorno sobre o capital investido
Fonte: Aguiar
et al (2001)
Tifton-85
na Avicultura caipira
Fonte:
arquivo
pessoal
A exploração de aves
caipira é uma das atividades agropecuárias com perfil mais apropriado para os
agricultores familiares. Além de enraizada na tradição cultural dos produtores,
requer baixos investimentos, proporciona boa lucratividade, é ecologicamente
correta e tem uma importância fundamental para a segurança alimentar das
famílias rurais. As aves, em sistemas extensivos e semi-intensivo, apresentam
hábitos de ciscar o solo atrás de pequenos insetos ou algo que as chame
atenção, dessa forma, para a planta persistir e apresentar uma boa cobertura
vegetal no solo deverá contar com sistemas de crescimento prostrado, ou seja,
os ramos crescem rentes ao chão cobrindo o solo, e estoloníferos, onde as
plantas emitem estolões capazes de enraizar, sendo essas características
típicas do capim tifton 85, que aliado ao seu
potencial nutricional se tornou uma excelente forrageira para o sistema de
criação de aves caipiras. Com o fornecimento de forragem para aves, devido ao
constituinte carotenóide, o produto final da criação de aves se apresenta de
coloração diferente, como os ovos, que possuirão a gema em um tom amarelo
escuro, assim como a carne que também será um tom mais escuro. Essas
características agregam valor ao produto final além de apresentar grande
aceitação no mercado onde a oferta é menor do que a demanda. Além disso,
a sua comercialização pode ser efetuada de modo direto (produtor-consumidor),
ou com a existência de, no máximo, um intermediário, tornando compensadores e
bastante atrativos os preços dos produtos para o produtor.
Tifton
85 na ovino-caprinocultura
Fonte:
arquivo
pessoal
Os
caprinos, assim como os ovinos são animais que apresentam como habito alimentar
a seletividade. São capazes de escolher com facilidades as folhas desejadas,
dessa forma, torna o tempo de pastejo prolongado e rente ao solo. O que em casos
de forrageiras com crescimento prostrado que emitem estolões, como o tífton 85,
não apresentam problemas com o seu restabelecimento pós pastejo quando bem
manejado, pois suportam rebaixamento superior ao de outras espécies como as
Braquiárias, Panicum etc.
O
capim tifton 85 vem apresentando excelentes resultados na criação de ovinos e
caprinos, como mostra no trabalho Carnevalli, et all (2001), onde foi testado o
desempenho de ovinos e resposta de pastagens de tifton 85 sob
lotação contínua de 20 cm de altura na primavera e verão. Onde apresentaram
ganhos de 35,3 g/animal/dia e 44,8 g/animal/dia respectivamente. Já na produção
de cabras leiteiras, segundo Embrapa, o capim Tifiton 85 tem mostrado um
potencial para atender até 60% da necessidade de nutrientes, reduzindo o uso de
alimentos concentrados e assim seus custos com alimentação.
Tifton-85
na equideocultura
Fonte: Gustavo
Carneiro do Amaral (ALCANCE)
A
criação de equídeos em pastagens de qualidade continua sendo a forma mais
barata e eficiente de criação. Assim como todos herbívoros, os equídeos
gostam de passar a maior parte do dia
pastejando. A mastigação de gramíneas
é um ato prazeroso para a
maioria destes animais. Seu complexo sistema digestivo adaptou-se anatômica e
fisiologicamente para transformação do capim em fonte de energia, proteína para
suprir suas necessidades de todos os nutrientes.
Com tipo de pastejo rente ao solo, é importante a escolha
adequada de uma espécie forrageira que tenha hábito de crescimento rasteiro.
Como por exemplo, as espécies de estoloníferas, dentre elas a mais indicada é o
Tifton-85, no qual suporta o tipo de pastejo rasteiro causando menor dano ao
meristema apical da planta proporcionando um melhor rebrote e persistência das
pastagens, uma vez que estão menos expostos, dificultando seu corte.
O fornecimento do capim tifton-85, seja no pasto como
matéria fresca ou em forma de feno vem apresentando excelentes resultados na
criação de eqüídeos, devido seu grande potencial nutricional capaz de atender
as diferentes categorias animal, como mostra a tabela abaixo.
Tabela 3: exigências nutricionais de algumas
categorias de equinos
Categoria
|
IMS (%)
|
PB(%)
|
ED (Mcal)
|
Ca (%)
|
P(%)
|
potros desmamados
|
3
|
14
|
16
|
0,65
|
0,45
|
potros de 1 a 2 anos
|
2,5
|
14
|
13
|
0,4
|
0,3
|
Éguas em lactação 0-3 meses
|
3
|
13
|
26
|
0,45
|
0,35
|
Éguas em lactação 3-6 meses
|
3
|
11
|
23
|
0,4
|
0,3
|
Éguas 1/3 final de gestação
|
2,5
|
11
|
17
|
0,45
|
0,35
|
Garanhões
|
2,5-3,5
|
11
|
15,5-19
|
0,4
|
0,3
|
equinos adultos (manultenção)
|
2,5
|
9
|
15
|
0,3
|
0,2
|
Fonte: NRC(2007), peso
adulto 500kg
De acordo com a
tabela 3 existem situações em que é possível manter as diferentes categorias de
equinos somente em pastejo de tifton-85 dispensando qualquer suplementação
concentrada. O que faz com que o sistema tenha menor custo em relação aos
sistemas estabulados utilizando-se de capineiras. Já que o potencial protéico
do capim elefante é baixo quando fornecido com idade acima de 45 dias.
Tabela 5: níveis nutricionais de capim elefante em diferentes
idades de corte
% na MS
|
|||||||
Idade(dias)
|
%MS
|
PB
|
EE
|
FB
|
ENN
|
Cinza
|
Digestibilidade
|
45
|
17
|
15
|
5
|
24
|
41
|
16
|
72
|
75
|
20
|
7
|
4
|
29
|
47
|
13
|
69
|
105
|
19
|
6
|
3
|
35
|
44
|
12
|
59
|
135
|
26
|
4
|
3
|
37
|
48
|
8
|
54
|
165
|
26
|
3
|
2
|
37
|
48
|
9
|
53
|
195
|
34
|
3
|
2
|
39
|
49
|
7
|
48
|
Fonte: Hillesheim (1988). Transcrito por
Prado(200?).
Conclusão
O Tifton-85 é
uma forrageira de altíssimo potencial produtivo em vários ramos da pecuária
nacional. Desde que bem manejado as respostas a sua utilização refletem tanto
no desempenho zootécnico dos animais quanto na viabilidade econômicas dos
sistemas que utilizam o Tifton-85. Deve-se mais uma vez frisar que não existe
capim milagroso, mas oferecendo as condições adequadas de produção o Tifton-85
trás resultados surpreendentes.
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